sábado, 10 de setembro de 2022

Dom Luciano J. Cabral Duarte: Uma vida em prol do Sacerdócio e Educação Superior em Sergipe

“O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá”.
Provérbios 11:25

Dos grandes Arcebispos sergipanos, sem dúvida alguma, Dom Luciano fez-se dos mais notabilizados. Nascido em Aracaju num dia 21 de janeiro do ano 1925 era o dedicado filho de Seu José de Góes Duarte saudoso poeta e de Dona Célia Cabral Duarte, mulher que instilou nele o senso de reponsabilidade e fé imorredoura. Da antiga Rua Japaratuba, era possível notar segundo relatos, que o jovial garoto desfrutara de melíflua infância repleta de aprendizados que levou consigo desde a tenra idade. 
Existem os chamados vocacionados para as lides católicas e Luciano Duarte era um desses que souberam aceitar o dadivoso chamamento. Aos 11 anos ingressou no Seminário de Aracaju como seguidor e ferrenho defensor da Igreja. Sua ordenação para sacerdote se deu no ano de 1948, se destacando pela temperança e ajuda ao próximo. Pela oratória inteligente e ao reunir atributos indispensáveis para lecionar, foi Professor e primeiro Diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Os alunos embevecidos relatavam que suas aulas eram genuínas viagens aos recônditos da cultura sergipana. 
Inquieto e buscando pelo acúmulo de novos conhecimentos, obtém com muito esforço seu Doutorado em Filosofia pela Sorbonne, na França donde auferiu aprovação com louvor. Pioneiro, Dom Luciano foi o primeiro Presidente do Conselho Diretor da Universidade Federal de Sergipe, sendo esta última também uma das iniciativas dele como veremos nas linhas sucedâneas. O seu grau de empenho foi fundamental para termos a fundação da UFS como a conhecemos hoje. 

Tudo começou pela instalação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe que aconteceu no dia 12 de março de 1951, donde funcionava de maneira provisória no Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Nesse tempo, Dom Luciano atuou como primeiro Diretor e lecionava Filosofia, Latim e Psicologia. É nesse entremeio que se doutorou em Filosofia pela Sorbonne e defende sua Tese em 1957 obtendo a digna menção “trés honorable”. Seis anos depois, em 1963 ocorre sua nomeação para o Conselho Estadual de Educação, assumindo após algum tempo a Presidência da Câmara de Ensino Superior. 
Na época em que Luiz Rabelo Leite era o Secretário de Educação, Dom Luciano é convocado a assumir como Coordenador de um Grupo de Trabalho para objetivar a criação de uma Universidade Federal em ambiência sergipana. Num dia 30 de setembro do ano 1967, ele então é eleito Presidente da Fundação Universidade Federal de Sergipe função esta que soube exercer com sensatez durante três mandatos sucessivos. 
Depois, mais precisamente no dia 07 de março do ano 1968, D. Luciano é nomeado membro do Conselho Federal de Educação, seara em que ficou por mais de 15 anos. Depois de ter sido Bispo Auxiliar de Aracaju na áurea época de Dom Távora, foi nomeado Arcebispo no dia 12 de fevereiro assumindo a titularidade da Arquidiocese donde permaneceu de 1971 a 1998 se destacando pela grandiosidade dos seus ideais. 
No campo da juventude forneceu majestosa contribuição ao conceder oportunidades para se descobrir a vocação sacerdotal de muitos jovens que encontraram o caminho da fé na Arquidiocese. Ademais, podemos notar que Dom Luciano participou ativamente não somente da implantação das Faculdades de Filosofia e de Serviço Social, o que notamos, deu origem à Universidade Federal de Sergipe (UFS), mas também da criação do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão bem como da luta pela reforma agrária entre as décadas de 1970 e 1980. 
Se realçou também na área jornalística, donde chegou a ser correspondente da Revista O Cruzeiro, a maior da América Latina coligada aos Diários Associados, do Jornal O Globo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, sendo articulista semanal, um intelectual nato. 

Durante muito tempo assumiu a cadeira de número 18 da vetusta Academia Sergipana de Letras pela sua inegável contribuição ao universo intelectivo e literário. Portanto, é um homem que marcou época em diversos âmbitos: social, religioso, político e intelectual. Professor brilhante, filósofo inovador e, sobretudo, teólogo que sabia o valor de auxiliar as pessoas que mais lhes solicitava alívio das agruras existenciais. Faleceu num dia 29 de maio do ano 2018 aos 93 anos de idade, deixando lacuna irreparável para todos àqueles que sabiam do valor de D. Luciano e da profunda mensagem que deixava em cada coração sergipano. 
Conclui-se que temos aqui uma vida dedicada ao sacerdócio e sendo até os dias hodiernos um dos principais pilares para que tivéssemos a fundação da Universidade Federal de Sergipe. Dom Luciano José Cabral Duarte ressoa como um dos mais proeminentes membros do clero brasileiro da segunda metade do século XX, pois batalhou e muito para que fossem gestadas políticas públicas voltadas para o setor educacional, algo que deve constar em letras garrafais nos Anais da História. 

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Texto escrito por Igor Salmeron, Sociólogo - Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-UFS), servidor do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, faz parte do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS). Membro vinculado à Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL). E-mail para contato: igorsalmeron_1993@hotmail.com

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