segunda-feira, 4 de julho de 2011

Divina Pastora cria mini-usina para produzir etanol

Equipamentos prontos para funcionar (Fotos:
Cássia Santana / Portal Infonet)
Combustível será usado na frota da Prefeitura e por taxistas que trabalham em diversas regiões do Estado.

Com Informações de Cássia Santana / Portal Infonet

Em Divina Pastora, distante 38 quilômetros da capital, Aracaju, a Rede de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável articulada pela Petrobras, com parceria do Sebrae, já está caminhando para a colheita de bons frutos. 
 
Com investimentos da ordem de R$ 148 mil, a Central das Cooperativas de Taxi do Estado de Sergipe, com parceria da Prefeitura do Município, está implantando uma mini-usina no município para produção de etanol, utilizando a cana-de-açúcar como matéria-prima produzida por pequenos agricultores incluídos no programa de reforma agrária desenvolvido no Estado pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

O combustível extraído da mini-usina, o etanol, será utilizado por taxistas que operam em diversas regiões do Estado e pela frota de veículos da Prefeitura de Divina Pastora. A unidade, instalada em um galpão da prefeitura, já está preparada para funcionar, na perspectiva de produzir, neste primeiro momento, 500 litros de combustível diariamente, com a proposta de aumentar a capacidade para atingir a casa dos 10 mil a 12 mil litros diários, conforme estimativa da Central de Cooperativas de Taxi.

Divina Pastora: pacata com sustentabilidade
Neste momento, embora apta para produzir o combustível, a mini-usina está parada, aguardando licença de funcionamento a ser emitida pela Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), conforme informações da professora Maria do Socorro Rocha Santos, coordenadora do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Município. O processo é dividido em três fases: licença prévia, para instalação e a de funcionamento.

Na Adema, o processo já se encontra em estágio final, ou seja, o pedido de licença para funcionamento já está em fase conclusiva de liberação, conforme informa o secretário de Estado Genival Nunes, do Meio Ambiente e de Recursos Hídricos (Semarh).

Os equipamentos fornecidos por uma empresa especializada do Rio Grande do Sul foram adquiridos pela Central das Cooperativas de Taxi do Estado – investimento avaliado em R$ 148 mil. A Prefeitura, por sua vez, fez investimentos na ordem de R$ 20 mil para estruturar o galpão em anexo à garagem da Prefeitura e as instalações hidráulicas e elétricas para recepcionar os equipamentos, que incluem máquina para moer e destilar a cana, além de caldeiras.

Pela proposta, a Prefeitura absorverá 20% da produção para abastecer a frota do município, estimada em 32 veículos (dez dos quais locados), e o restante será usado pelos taxistas cooperados. “Com este projeto, os taxistas terão uma economia em torno de 30% a 40% com combustível”, comemora o consultor da Central das Cooperativas de Taxistas do Estado de Sergipe, Edilson Tavares.

Economia também para o município, que possui gasto em torno de R$ 60 mil/mês com combustível. “Vamos ter uma economia em torno de R$ 15 mil a R$ 18 mil só com combustível mensalmente”, contabiliza a coordenadora do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Município.

A qualidade do álcool combustível produzido naquela mini-usina conquista os motoristas. “O álcool foi testados nos carros da prefeitura e foi todo aprovado, é positivo”, diz o motorista Genivaldo dos Santos, conhecido como Barbudinho (mesmo sem barba, agora, o apelido ainda permanece). “Foi testado em carros com injeção eletrônica e nenhum apresentou problema. É muito bom”, resume.

E a poluição ao meio ambiente? “A padaria polui muito mais que esta usina”, reage o motorista José Aloísio dos Santos. “Tudo da cana é aproveitado aqui”, revela. O bagaço, inclusive, é utilizado para aquecer as caldeiras e o vinhoto, segundo explica Maria do Socorro, é reaproveitado como adubo, usado também para pulverizar a plantação. “É um biocombustível completamente limpo”, assegura a coordenadora do projeto da Prefeitura.

Assentamento

Para engrenar o projeto dentro do conceito da sustentabilidade econômica e ambiental, a Prefeitura buscou parceiros, incluindo neste rol os assentados do Movimento Sem Terra (MST) na região, beneficiados pelo programa de reforma agrária desenvolvido pelo Governo Federal por meio do Incra.

De acordo com o secretário municipal de agricultura, Reginaldo Almeida de Jesus – também um assentado - são 80 famílias

assentadas numa área de 1.779 hectares. Cada uma, dona de 30 tarefas. Mas nem todas estão envolvidas no processo de produção. Atualmente, há, segundo estimativa do secretário, 300 tarefas plantadas, com capacidade de produzir cerca de 20 toneladas. “Esta usina, para nós, é uma alternativa porque aqui nem todos estão plantando por falta de escoamento da produção”, reconhece.

O projeto está otimizando a região. “Tenho 11 tarefas todo plantado com cana, tenho vontade de arrendar mais terras para plantar mais cana porque a usina vai ser bem melhor pra nós”, comemora o assentado Joel de Santana, 63, dono de 25 tarefas de terras no município.

O agricultor Ednaldo Rosa de Lisboa, 47, compactua com a tese do secretário. “Dei uma parada porque estamos sem lucro, mas se tirar certinho, agora, com esta usina, eu volto a plantar cana”, reage o agricultor, que costuma reservar seis tarefas da área que conseguiu ocupar para o plantio e a colheita de 180 toneladas de cana.

Para viabilizar o projeto, a Prefeitura de Divina Pastora também conta com a consultoria do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), mantido pela Universidade Tiradentes (Unit). “A ideia é aproveitar a vocação da região com aproveitamento da produção e temos projeto de ampliar a mini-usina e incluir outro município no projeto”, informa o sociólogo Geraldo Viana, coordenador de projetos na área de desenvolvimento sustentável do ITP. O município ainda não foi selecionado.

O projeto é ambicioso. Além da cana, é pretensão dos idealizadores utilizar outros produtos como matéria-prima para produção de biocombustível, a exemplo do arroz, sorgo sacarino, mandioca e a batata. “Mas a batata não é economicamente viável porque os produtores ganham mais comercializando para a mesa”, reconhece o sociólogo do ITP.

Mas a ideia revolucionária está no incentivo à produção de farinha de mandioca para que a usina possa absorver a manipueira, resíduo líquido gerado no processo de prensagem da raiz para produção da farinha e da fécula, que é considerado matéria tóxica pela elevada concentração de cianeto, em sua composição. Seria transformar este veneno em combustível, mas ainda é cedo para dar esta largada. “Precisamos ativar as casas de farinha primeiro”, considera a professora Maria do Socorro.

Rede de Cooperação

O projeto desenvolvido em Divina Pastora é destaque da Rede de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável para os Municípios de Sergipe, uma iniciativa articulada pela Petrobras, com parceria do Sebrae, que envolve 18 municípios petrolíferos com o objetivo de induzir os gestores a fomentar a promoção do desenvolvimento sustentável através da cultura de cooperação.

A pretensão da Rede é que os municípios envolvidos construam um Plano de Desenvolvimento Integrado, até o ano de 2015, tomando como base seis dimensões: econômica, social, ambiental, política institucional, cultural e territorial.

Classificado como o quarto maior produtor de petróleo do Estado, Divina Pastora é um município de pequeno porte, com área territorial interior a 92 km2 e população de 4.326 habitantes, com Produto Interno Bruto (PIB) per capta de R$ 33.671,00, conforme dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseado no Censo Demográfico realizado no ano passado. Uma economia embalada pelos royalties pagos pela Petrobras, que giram, em média, em torno dos R$ 500 mil mensais.

Além da mini-usina, Divina Pastora já estuda a probabilidade de implantar outros projetos de desenvolvimento sustentável, todos com a assessoria técnica do ITP mantido pela Unit, que inclui até a substituição de casas de taipa por uma outra tecnologia, a taipa de pilão, envolvendo a mão de obra da própria população que ainda reside nestes tipos de unidades habitacionais. Os projetos também incluem a preservação de uma reserva ecológica, passando pela catalogação das espécies de plantas e animais existentes no município com o objetivo de criar uma área de preservação permanente, de forma a evitar a prática da monocultura na região e a devastação florestal.

Práticas que serão reproduzidas na cidade de Alcântara, no Estado do Maranhão, onde está instalado o único Centro Espacial da América Latina. As negociações, segundo informações do sociólogo Geraldo Viana, estão bem encaminhadas entre o ITP mantido pela Unit e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável.
 
ATIVISTA COMENTA
 
Um exemplo a ser seguido pela secretaria de indústria e comércio do nosso municipio, não acham?

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