José Carlos Teixeira morreu hoje, 29 de maio de 2018, em sua residência, aos 82 anos de idade. Está sendo lembrado pelos cargos de vice-governador, prefeito de Aracaju, secretário de Estado da Cultura, fundador da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – SCAS, empresário e tantas outras iniciativas que tomou ao longo da sua produtiva vida. Talvez, neste momento, seja necessário lembrar uma outra iniciativa desta notável figura que marcou a vida política brasileira, principalmente a dos sergipanos, durante a segunda metade do século XX.
O golpe militar de 31 de março de 1964 depôs o presidente do Brasil, João Goulart, e, em Sergipe, o governador João de Seixas Dória. O Congresso Nacional sob pressão militar elegeu o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco para a Presidência da República. Castelo Branco governou editando atos institucionais e banindo da vida pública os principais adversários do novo regime. O governador de Sergipe, João de Seixas Dória, foi preso na ilha de Fernando de Noronha, ao lado do governador de Pernambuco, Miguel Arraes.
A partir do estabelecimento do bipartidarismo, com a edição do ato institucional número dois, em 1965, as principais lideranças políticas do Estado de Sergipe chamaram de conciliação as discussões que levaram a fundar, em 1966, a Aliança Renovadora Nacional – Arena, reunindo tradicionais adversários políticos em torno do partido que buscava sustentar a ditadura. Antagonistas extremados concordaram em buscar fórmulas para a divisão do poder estadual. Chefes políticos como Arnaldo Garcez, Dionísio Machado e Leandro Maciel, ex-governadores do Estado, e outras lideranças como Augusto Franco, Lourival Baptista e Manoel Cabral Machado, sentaram lado a lado para fundar a Aliança Renovadora Nacional. Todos os deputados que tinham assento à Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe aderiram ao governo. A maior parte dos líderes do antigo Partido Social Democrático – o PSD não teve dificuldade de se juntar aos inimigos de ontem da antiga União Democrática Nacional – a UDN.
Foram poucas as lideranças políticas que resistiram ao ambiente de pressão criado em Sergipe. Um dos mais importantes empresários de Sergipe, Oviedo Teixeira concordou com a posição do seu filho, o jovem deputado federal José Carlos Teixeira, de fundar o Movimento Democrático Brasileiro - MDB em Sergipe. Era um gesto ousado para um deputado que ainda não havia chegado aos 30 anos de idade e que se encontrava no exercício do seu primeiro mandato parlamentar. Fora eleito a primeira vez pela legenda do extinto Partido Social Democrático – o PSD e agora aceitava a tarefa de organizar em Sergipe o partido que faria oposição à ditadura militar. Era o único parlamentar sergipano a assumir tal posição, posto que toda a bancada federal e estadual havia assumido a filiação ao partido governista, a Arena.
Não foi pequeno o de José Carlos Teixeira e dos demais dirigentes do MDB, a fim de manter o partido organizado em Sergipe. O deputado federal José Carlos Teixeira denunciou a pressão exercida pelo governo contra o MDB e o uso da máquina pública para beneficiar a Arena no processo de filiações.
O partido enfrentou percalços, resistiu e cresceu. Para fortalecer o MDB, José Carlos Teixeira criou, em 1978, o Jornal de Sergipe, buscando abrir espaços na mídia impressa uma vez que a maior parte dos veículos tinha compromissos políticos e econômicos com os grupos de poder que ocupavam espaços no Governo de Sergipe. O jornal teve suas instalações inauguradas no dia 18 de fevereiro de 1978 e começou a circular no dia seguinte, o domingo, 19 de fevereiro. José Carlos Teixeira já tinha experiência como empresário do setor e fora, em 1963, um dos proprietários do Sergipe Jornal, adquirido posteriormente pela empresa Diários Associados, de Assis Chateubriand, e transformado, em 1965, no jornal Diário de Aracaju.
A partir do golpe militar de 1964, instituiu-se eleição indireta para presidente e vice-presidente da República. Com a edição do ato institucional número três, em 1966, foram estabelecidas eleições indiretas para os cargos de governador e vice-governador de Estado, prefeitos das capitais, dos municípios considerados áreas de segurança nacional e das estâncias hidrominerais. Em Sergipe, o único dos 74 municípios com tais características foi Aracaju, capital do Estado.
O MDB teve dificuldades em Sergipe para compor a sua primeira chapa e registrar os nomes dos candidatos. A adesão ao governo militar era tamanha que naquelas eleições o maior problema da Arena para compor a chapa era o excesso de candidatos. No Movimento Democrático Brasileiro, o problema era inverso. O próprio Oviêdo Teixeira aceitou o lançamento do seu nome como candidato ao Senado, tendo como suplente o médico Lucilo da Costa Pinto. A lista de candidatos a deputado federal era encabeçada por José Carlos Teixeira, Valter Batista e Ariosto Amado, que buscavam a reeleição. José Carlos Teixeira depositava suas esperanças no eleitorado urbano, mais sensível a influência da organização dos trabalhadores e das camadas médias, principalmente nas cidades de Aracaju, Propriá, São Cristóvão, Estância e Neópolis nas quais o partido acreditava obter êxito. Os arenistas, principalmente os ex-udenistas, estavam preocupados com a movimentação de Oviedo Teixeira. Detentor de muito prestígio ele era visto como um líder capaz de incorporar as insatisfações existentes em face da animosidade, ainda não sepultada, de lideranças do antigo PSD que resistiam ao nome do ex-governador Leandro Maciel, tradicional chefe da antiga UDN e candidato ao senado pela Arena, apesar de conviverem agora, ex-pessedistas e ex-udenistas, todos no mesmo partido – a Aliança Renovadora Nacional.
O empresário Oviedo Teixeira foi derrotado pelo engenheiro Leandro Maciel que conquistou a cadeira de Senador da República. Contudo, como previam as lideranças da oposição, Oviedo foi o vencedor do pleito em Aracaju. José Carlos Teixeira renovou o seu mandato de Deputado Federal. O partido conquistou seis vagas de deputado estadual.
A história da resistência a ditadura é longa. José Carlos Teixeira e outros democratas que se reuniram em torno da sua liderança, como Jackson Barreto de Lima, dedicaram 20 anos de suas vidas (1964-1984) à luta em defesa da democracia no Brasil. Este é o maior legado da memória de José Carlos Teixeira, principalmente em dias tão sombrios quanto os que vivemos atualmente.
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