segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Transposição do Rio São Francisco não matará sede no Nordeste

Especialistas criticam projeto e afirmam que ele põe em risco a sobrevivência do rio. Solução seria aproveitar açudes

O governo federal promete beneficiar até 12 milhões de pessoas com a realização da obra de transposição do rio São Francisco, que levará água para rios menores do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Segundo especialistas reunidos pelo projeto de extensão Quintas Urbanas, a água não chegará a essas pessoas e ainda por cima comprometerá a sobrevivência do rio. A solução, segundo eles, estaria em aproveitar o próprio sistema de açudes da região para garantir o abastecimento de água.

O professor João Abner, engenheiro civil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), afirma que o projeto servirá apenas a interesses do agronegócio. “A água desviada será usada em grandes projetos de irrigação”, critica. ”Segundo dados do Ministério da Integração Nacional, em 40 anos, já foram investidos 3 bilhões de reais em 250 mil hectares em estrutura de irrigação no Nordeste e hoje apenas 100 mil permanecem produzindo. Mesmo o Banco Mundial aponta a iniciativa como fracassada”.

Ruben Siqueira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e membro da articulação popular São Francisco Vivo, duvida que o agronegócio realmente leve desenvolvimento para a população. “Basta ver os exemplos de Juazeiro e Petrolina. A região, beneficiada por um projeto semelhante, está entre as mais violentas do país”. Segundo Rubens, os empregos fornecidos pela atividade econômica são precários e insuficientes, o que leva ao aumento da violência.

Abner acrescenta, ainda, que a obra comprometerá a capacidade de recuperação do rio São Francisco. “O governo afirma que a vazão retirada será de 26 metros cúbicos por segundo e todos os estudos de impactos foram previstos com base nesse valor. Mas o sistema tem a capacidade para 127 e não existem garantias de que ela não será usada”. Ruben lembrou palavras do bispo Luiz Cappio, militante na defesa do rio São Francisco contra a transposição. “Para ele, o que o projeto vai fazer será como retirar sangue de um anêmico”. Ruben explica que 95% da mata ciliar do rio já está comprometida. “É o oitavo rio mais degradado do mundo”.

ALTERNATIVA – Os dois especialistas concordaram que uma alternativa ao projeto seria o aproveitamento dos próprios reservatórios da região beneficiada. “Não falta água, o que falta é ela chegar à população”, afirma Abner. Segundo o engenheiro, o nordeste setentrional, que engloba os três estados, já conta com 34 bilhões de metros cúbicos de água por causa da estrutura implantada. “É equivalente ao reservatório da barragem de Sobradinho, no próprio São Francisco”.

“Isso mostra que não é a proximidade da água que mata a sede da população. Algumas comunidades que vivem a poucos metros do rio permanecem na miséria”, complementa Ruben. Os dois acreditam que a construção de adutoras e sistemas integrados de abastecimento para levar a água dos açudes para a população seriam suficientes para garantir o abastecimento.

Francisco Brasileiro - Da Secretaria de Comunicação da UnB

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