Gasolina, transporte, telefone, luz e mensalidades escolares são alguns dos produtos e serviços que terão seus preços aumentados no próximo ano. O índice médio deve chegar a 6%.
CONJUNTURA
Onda de reajustes ameaça consumidor
Prepare-se. Os preços de combustíveis, energia, telefone, ônibus urbano, aluguéis e mensalidades escolares vão assolar o seu bolso já no início de 2011
No que depender dos preços administrados — aqueles que incluem as tarifas públicas —, 2011 será de mais gastos para os brasileiros. Se até agora a alta média foi de apenas 2%, o reajuste previsto no próximo ano é de 6%, conforme estimativas otimistas do mercado. A inflação que corrói rápida e dolorosamente o bolso das famílias virá embutida nos combustíveis, nas contas de energia, nas faturas de telefone, nas passagens de ônibus urbano, pedágios e aluguéis. O maior salto deverá ser das mensalidades escolares, que tendem a subir até 10%.
Essa cesta de produtos e serviços está atrelada direta ou indiretamente ao comportamento dos Índices Gerais de Preços (IGPs), calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV). No início de 2010, a oscilação foi discreta, mas desde o segundo trimestre houve uma escalada que ainda não atingiu seu pico e que terá fortes repercussões sobre os resultados de 2011. “No início do ano, os IGPs começaram bem tranquilos. Em 2011, eles vão começar mais altos. Serão mais um fator para complicar o cenário”, explica Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria.
Até outubro, os itens dependentes das variações do IGP-DI e IGP-M registram altas. A gasolina avançou 1,79%; a energia elétrica, 3,19%; o gás, 2,18%; as contas de água e esgoto, 4,77%; os aluguéis, 3,27%; o ônibus urbano,10,93%; o telefone fixo, 0,47%; e o telefone móvel, 3,73%. Por causa das eleições, alguns reajustes acabaram sendo represados para evitar desgastes nas urnas. Com a autorização desses aumentos em novembro e em dezembro, controlar a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) será uma missão ainda mais complicada para o Banco Central. “Se não tivessem segurado os reajustes de transportes públicos em algumas capitais e de combustíveis, por exemplo, o nível da inflação seria ainda maior”, alerta Barbosa.
Cenário ruim
Puxada por alimentos e serviços, a inflação que o governo leva em conta na hora de definir o sistema de metas corre o risco de sair do controle. Prévias do mês divulgadas no início da semana surpreenderam bancos, consultorias e até a equipe econômica, que esperavam taxas bem menores do que as reveladas. Diante do cenário adverso, as pressões sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentaram sensivelmente. Parte do mercado dá como certa a elevação da taxa básica de juros (Selic) — atualmente em 10,75% ao ano — já na reunião prevista para 7 e 8 de dezembro.
A meta oficial de inflação estipulada pelo governo para este e o próximo ano é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Analistas apostam, no entanto, que o IPCA chegue perto de 6%. Em comunicado distribuído ontem, o Itaú Unibanco elevou a projeção para a inflação em 2010 para 5,9%. “As últimas leituras mostram mais do que a inflação dos alimentos. Houve uma deterioração do cenário e, agora, esperamos a retomada do ciclo de aperto monetário em janeiro de 2011”, reforça o documento. A Gradual Investimentos aposta que o IPCA de novembro baterá na casa de 0,90%, “um valor extremamente incômodo”, conforme avaliação da consultoria.
MANTEGA INSISTE NO NOVO ÍNDICE
» Criticada pelo mercado e por líderes de oposição, a ideia do governo de criar um índice de inflação que desconsidere alimentos e combustíveis voltou a ser defendida ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, o objetivo não é propor um novo índice oficial que substitua o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas fazer com que os contratos indexados a Índices Gerais de Preços (IGPs) passem a incorporar um novo balizador, sensível à influência de fatores externos, como variação de preços de commodities ou climáticas. O ministro destacou que os estudos em andamento não têm objetivo de mudar a correção dos contratos em vigor. E atacou o modelo adotado pelo governo Fernando Henrique Cardoso durante a privatização, que, a seu ver, foi um equívoco ao carregar a inflação externa para o Brasil.
INFLUÊNCIAS NEGATIVAS
Chaga econômica que aflige o Brasil desde os anos 1970, a indexação ainda é um dos componentes que mais influenciam a inflação. Nada menos do que um terço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2011 está comprometido por causa da alta dos preços administrados. Tanto peso reduz drasticamente o espaço para o Banco Central manejar a política monetária, o que poderá implicar em ajustes mais frequentes e intensos da taxa de juros (Selic) a curto prazo.
Apesar da estabilidade e das provas incontestáveis de solidez, a economia brasileira ainda convive com influências negativas, como o péssimo hábito de olhar a inflação passada. Ao admitir a correção automática de contratos, do valor de produtos e de serviços com base em índices gerais de preços (IGPs), na prática, empurram-se para frente reajustes que deveriam ter ficado para trás. É exatamente o que está acontecendo nesta virada de 2010 para 2011.
Mesmo menor do que em períodos anteriores, o nível de indexação verificado no Brasil faz com que tendências de altas de preços sejam prolongadas por períodos superiores aos que realmente deveriam. O fenômeno desafia o governo e os economistas. Nos últimos anos, por meio de leis e ajustes em marcos regulatórios, os contratos de energia elétrica e telefonia passaram a considerar fórmulas métricas que não levam em consideração apenas os IGPs para se atualizarem. Uma parte do mercado acredita que essa seja a solução para livrar de vez o país de velhas amarras. (LP)
Luciano Pires
Correio Braziliense
CONJUNTURA
Onda de reajustes ameaça consumidor
Prepare-se. Os preços de combustíveis, energia, telefone, ônibus urbano, aluguéis e mensalidades escolares vão assolar o seu bolso já no início de 2011
No que depender dos preços administrados — aqueles que incluem as tarifas públicas —, 2011 será de mais gastos para os brasileiros. Se até agora a alta média foi de apenas 2%, o reajuste previsto no próximo ano é de 6%, conforme estimativas otimistas do mercado. A inflação que corrói rápida e dolorosamente o bolso das famílias virá embutida nos combustíveis, nas contas de energia, nas faturas de telefone, nas passagens de ônibus urbano, pedágios e aluguéis. O maior salto deverá ser das mensalidades escolares, que tendem a subir até 10%.
Essa cesta de produtos e serviços está atrelada direta ou indiretamente ao comportamento dos Índices Gerais de Preços (IGPs), calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV). No início de 2010, a oscilação foi discreta, mas desde o segundo trimestre houve uma escalada que ainda não atingiu seu pico e que terá fortes repercussões sobre os resultados de 2011. “No início do ano, os IGPs começaram bem tranquilos. Em 2011, eles vão começar mais altos. Serão mais um fator para complicar o cenário”, explica Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria.
Até outubro, os itens dependentes das variações do IGP-DI e IGP-M registram altas. A gasolina avançou 1,79%; a energia elétrica, 3,19%; o gás, 2,18%; as contas de água e esgoto, 4,77%; os aluguéis, 3,27%; o ônibus urbano,10,93%; o telefone fixo, 0,47%; e o telefone móvel, 3,73%. Por causa das eleições, alguns reajustes acabaram sendo represados para evitar desgastes nas urnas. Com a autorização desses aumentos em novembro e em dezembro, controlar a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) será uma missão ainda mais complicada para o Banco Central. “Se não tivessem segurado os reajustes de transportes públicos em algumas capitais e de combustíveis, por exemplo, o nível da inflação seria ainda maior”, alerta Barbosa.
Cenário ruim
Puxada por alimentos e serviços, a inflação que o governo leva em conta na hora de definir o sistema de metas corre o risco de sair do controle. Prévias do mês divulgadas no início da semana surpreenderam bancos, consultorias e até a equipe econômica, que esperavam taxas bem menores do que as reveladas. Diante do cenário adverso, as pressões sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentaram sensivelmente. Parte do mercado dá como certa a elevação da taxa básica de juros (Selic) — atualmente em 10,75% ao ano — já na reunião prevista para 7 e 8 de dezembro.
A meta oficial de inflação estipulada pelo governo para este e o próximo ano é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Analistas apostam, no entanto, que o IPCA chegue perto de 6%. Em comunicado distribuído ontem, o Itaú Unibanco elevou a projeção para a inflação em 2010 para 5,9%. “As últimas leituras mostram mais do que a inflação dos alimentos. Houve uma deterioração do cenário e, agora, esperamos a retomada do ciclo de aperto monetário em janeiro de 2011”, reforça o documento. A Gradual Investimentos aposta que o IPCA de novembro baterá na casa de 0,90%, “um valor extremamente incômodo”, conforme avaliação da consultoria.
MANTEGA INSISTE NO NOVO ÍNDICE
» Criticada pelo mercado e por líderes de oposição, a ideia do governo de criar um índice de inflação que desconsidere alimentos e combustíveis voltou a ser defendida ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, o objetivo não é propor um novo índice oficial que substitua o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas fazer com que os contratos indexados a Índices Gerais de Preços (IGPs) passem a incorporar um novo balizador, sensível à influência de fatores externos, como variação de preços de commodities ou climáticas. O ministro destacou que os estudos em andamento não têm objetivo de mudar a correção dos contratos em vigor. E atacou o modelo adotado pelo governo Fernando Henrique Cardoso durante a privatização, que, a seu ver, foi um equívoco ao carregar a inflação externa para o Brasil.
INFLUÊNCIAS NEGATIVAS
Chaga econômica que aflige o Brasil desde os anos 1970, a indexação ainda é um dos componentes que mais influenciam a inflação. Nada menos do que um terço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2011 está comprometido por causa da alta dos preços administrados. Tanto peso reduz drasticamente o espaço para o Banco Central manejar a política monetária, o que poderá implicar em ajustes mais frequentes e intensos da taxa de juros (Selic) a curto prazo.
Apesar da estabilidade e das provas incontestáveis de solidez, a economia brasileira ainda convive com influências negativas, como o péssimo hábito de olhar a inflação passada. Ao admitir a correção automática de contratos, do valor de produtos e de serviços com base em índices gerais de preços (IGPs), na prática, empurram-se para frente reajustes que deveriam ter ficado para trás. É exatamente o que está acontecendo nesta virada de 2010 para 2011.
Mesmo menor do que em períodos anteriores, o nível de indexação verificado no Brasil faz com que tendências de altas de preços sejam prolongadas por períodos superiores aos que realmente deveriam. O fenômeno desafia o governo e os economistas. Nos últimos anos, por meio de leis e ajustes em marcos regulatórios, os contratos de energia elétrica e telefonia passaram a considerar fórmulas métricas que não levam em consideração apenas os IGPs para se atualizarem. Uma parte do mercado acredita que essa seja a solução para livrar de vez o país de velhas amarras. (LP)
Luciano Pires
Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário