Segundo turno explicita dúvidas, diz Caetano Veloso
MARCUS PRETO DE SÃO PAULO
Cabo eleitoral assumido da candidata Marina Silva, o cantor Caetano Veloso, 68, defende a importância do segundo turno nas eleições presidenciais para que "haja uma sensação de que há críticas, há gente de olho, há dúvidas na sociedade".
Na entrevista a seguir, critica a campanha de José Serra ("não tem que botar Lula na propaganda dele") e faz um balanço de erros e acertos de Lula ("apesar de tudo isso, está no azul"). Leia os principais trechos.
Folha - Pesquisas recentes apontam queda de Dilma e abrem margem para um possível segundo turno. Como vê esse quadro?
Caetano Veloso - Eu torço para que tenha segundo turno. Porque o tom que Lula e Dilma estavam [usando] na campanha, ela insuflada por ele, era um pouco desmedido. E até irrealista. Eufórico demais. Não era bom que fosse uma eleição no primeiro turno, e uma presidente fosse empossada nesse tom.
Por quê?
Deve haver uma sensação de que há críticas, há gente de olho, há dúvidas na sociedade, que a vida é mais complexa. Aquele negócio de Lula pensar que pode dizer tudo quando chega no comício não é bom. Se a eleição se definisse nesse tom, seria um sintoma de que o Brasil realmente estaria em uma regressão populista primária, que eu suponho que o Brasil não tenha mais idade para estar.
A campanha de Serra está mais equilibrada?
Sempre achei errado Serra ficar esse tempo todo fingindo que não teria nada contra Lula, como se estivesse junto dele. Aquilo não funciona. O Brasil é um país grande. Quantos leitores tem a revista "Veja", por exemplo? É sinal de que o país tem várias forças se movendo dentro. Serra deveria ter se apresentado como outra coisa, não tem de botar Lula na propaganda dele. Precisava de um baiano lá para saber fazer a campanha dele [risos].
Qual seria a melhor estratégia para Marina, sua candidata, se houver segundo turno?
O ideal seria que ela subisse, passasse o Serra e fossem duas mulheres para o segundo turno. Ia ser muito bom.
E se isso não acontecer? Ela deve apoiar outro candidato?
Ela pode se abster de apoiar alguém. Mas, se apoiar, dirá claramente por que fez. Marina é a mais moderna. Está num estágio pós-Fernando Henrique e pós-Lula, com o que aconteceu de bom nesses governos. Tem as responsabilidades intelectuais, técnicas e morais que resultaram dos 16 anos de PSDB e PT.
Você se arrepende de ter votado em Lula em 2002?
Nunca me arrependi --nem no auge do mensalão, nem agora, quando ele falou em "extirpar o DEM" e nessa baboseira sobre "mídia golpista". Essas coisas não são aceitáveis, mas, apesar de tudo isso, Lula está no azul.
Por quê?
Ele é uma continuação do governo Fernando Henrique, com mais energia e mais brilho. Lula é uma figura histórica de grande importância, muito maior do que pôde aparecer no filme que foi feito pelo Fabinho [Barreto, "Lula, o Filho do Brasil"]. É um filme legal, mas teve pudor em fazer o que deveria ser feito: se deixar inebriar pela força mítica do grande herói épico e histórico que o Lula é. Se fizesse, seria um clássico.
Fonte:folha.com
MARCUS PRETO DE SÃO PAULO
Cabo eleitoral assumido da candidata Marina Silva, o cantor Caetano Veloso, 68, defende a importância do segundo turno nas eleições presidenciais para que "haja uma sensação de que há críticas, há gente de olho, há dúvidas na sociedade".
Na entrevista a seguir, critica a campanha de José Serra ("não tem que botar Lula na propaganda dele") e faz um balanço de erros e acertos de Lula ("apesar de tudo isso, está no azul"). Leia os principais trechos.
Folha - Pesquisas recentes apontam queda de Dilma e abrem margem para um possível segundo turno. Como vê esse quadro?
Caetano Veloso - Eu torço para que tenha segundo turno. Porque o tom que Lula e Dilma estavam [usando] na campanha, ela insuflada por ele, era um pouco desmedido. E até irrealista. Eufórico demais. Não era bom que fosse uma eleição no primeiro turno, e uma presidente fosse empossada nesse tom.
Por quê?
Deve haver uma sensação de que há críticas, há gente de olho, há dúvidas na sociedade, que a vida é mais complexa. Aquele negócio de Lula pensar que pode dizer tudo quando chega no comício não é bom. Se a eleição se definisse nesse tom, seria um sintoma de que o Brasil realmente estaria em uma regressão populista primária, que eu suponho que o Brasil não tenha mais idade para estar.
A campanha de Serra está mais equilibrada?
Sempre achei errado Serra ficar esse tempo todo fingindo que não teria nada contra Lula, como se estivesse junto dele. Aquilo não funciona. O Brasil é um país grande. Quantos leitores tem a revista "Veja", por exemplo? É sinal de que o país tem várias forças se movendo dentro. Serra deveria ter se apresentado como outra coisa, não tem de botar Lula na propaganda dele. Precisava de um baiano lá para saber fazer a campanha dele [risos].
Qual seria a melhor estratégia para Marina, sua candidata, se houver segundo turno?
O ideal seria que ela subisse, passasse o Serra e fossem duas mulheres para o segundo turno. Ia ser muito bom.
E se isso não acontecer? Ela deve apoiar outro candidato?
Ela pode se abster de apoiar alguém. Mas, se apoiar, dirá claramente por que fez. Marina é a mais moderna. Está num estágio pós-Fernando Henrique e pós-Lula, com o que aconteceu de bom nesses governos. Tem as responsabilidades intelectuais, técnicas e morais que resultaram dos 16 anos de PSDB e PT.
Você se arrepende de ter votado em Lula em 2002?
Nunca me arrependi --nem no auge do mensalão, nem agora, quando ele falou em "extirpar o DEM" e nessa baboseira sobre "mídia golpista". Essas coisas não são aceitáveis, mas, apesar de tudo isso, Lula está no azul.
Por quê?
Ele é uma continuação do governo Fernando Henrique, com mais energia e mais brilho. Lula é uma figura histórica de grande importância, muito maior do que pôde aparecer no filme que foi feito pelo Fabinho [Barreto, "Lula, o Filho do Brasil"]. É um filme legal, mas teve pudor em fazer o que deveria ser feito: se deixar inebriar pela força mítica do grande herói épico e histórico que o Lula é. Se fizesse, seria um clássico.
Fonte:folha.com
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