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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

VALE DO CATETE




Vale critica Petrobrás por demora em definir concessão de mina de potássio

...se pretende ou não renovar a concessão da mina de potássio de Taquari-Vassouras, em Sergipe, que vence em 2017...

Investimentos em fertilizantes colocaram em lados opostos as duas maiores empresas brasileiras: a Vale e a Petrobrás. Ontem, o presidente da mineradora, Roger Agnelli, fez duras críticas à demora da estatal em definir se pretende ou não renovar a concessão da mina de potássio de Taquari-Vassouras, em Sergipe, que vence em 2017

Segundo ele, a Vale aguarda há três anos uma resposta sobre a concessão. Para tentar acelerar o processo, Agnelli chegou a enviar cartas ao presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. Mas, não recebeu resposta. "É até uma questão educação", reclamou. E completou: "Depois não nos cobrem que não tem investimentos em potássio no Brasil." Procurada, a direção da Petrobrás não havia se manifestado até o início da noite de ontem.

Em abril, o então ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, reclamou que a Vale não explorava todo o potencial da mina entregue à companhia pela Petrobrás. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também já defendeu uma parceria entre a Vale e a Petrobrás para aumentar a produção de fertilizantes.

Segundo Agnelli, a Vale precisa de uma definição sobre Taquari-Vassouras para decidir se coloca em prática seus planos de ampliação da mina. "Vamos tocando os projetos até a hora em que ele (Gabrielli) achar que tem de dar uma resposta", afirmou, após participar do seminário Brasil Competitivo - Estratégias e Desafios, promovido pela agência Standard & Poor""s.

Apesar do arsenal voltado contra Gabrielli, o presidente da Vale minimizou o impacto para a mineradora da estratégia da Petrobrás de priorizar o fornecimento de gás natural paras as usinas termelétricas.

De acordo com o executivo, a Vale não é prejudicada porque seu foco em fertilizantes não é em nitrogenados, mas em potássio e fosfato. "A Petrobrás tem de prover o fornecimento para as térmicas e, às vezes, suspende ou interrompe o fornecimento (para outros clientes)", relatou. A Vale tem apenas uma pequena mina oriunda da Bunge que produz nitrogenados.

Nova empresa. Não é a primeira vez que Agnelli e Gabrielli se colocam em lados opostos. Em 2009, durante o anúncio de parceria entre as duas companhias para a exploração de um bloco de petróleo e gás natural na Bacia do Espírito Santos, Agnelli manifestou interesse em investir, junto com a Petrobrás, na exploração de blocos na camada pré-sal. Mas recebeu um freio de Gabrielli ainda durante o evento. "Não há essa possibilidade", afirmou o presidente da estatal na ocasião.

No evento de ontem, o presidente da Vale revelou que vai propor a criação de uma empresa de fertilizantes, que nasceria da união dos ativos comprados da Bunge no Brasil e da Fosfértil. A companhia teria inicialmente capacidade de produção para seis a sete milhões de toneladas de fosfato. A intenção no futuro é incluir também o projeto Bayóvar, no Peru, que tem previsão para chegar a 7,9 milhões de toneladas até 2015.

"É um desejo antigo de todos os acionistas, uma planta é do lado da outra, uma mina é próxima da outra. Há muitas sinergias entre as duas empresas e é positivo para todos", disse, Em maio, a Vale concluiu a compra do controle da Fosfertil, após adquirir fatias que pertenciam à Bunge, Yara, Heringer e Fertipar.

Num lance simultâneo, a mineradora comprou ainda ativos da Bunge Fertilizantes. Os investimentos totais somaram US$ 4,7 bilhões. Como a Fosfertil é listada em bolsa, a intenção da Vale é que a nova empresa, que se chamará Vale fertilizantes, também seja listada na Bolsa de Valores de São Paulo.

Amazônia. A Petrobrás tem também a concessão de reservas de potássio em Nova Olinda do Norte, no Amazonas, descoberta na década de 80 mas ainda sem produção. A estatal retomou estudos sobre o assunto após a disparada dos preços dos fertilizantes. No mercado chegou-se a cogitar um acordo entre Petrobrás e Vale para exploração do mineral.

A estatal contratou estudo técnico para contribuir na tomada de decisão sobre o futuro da jazida. Na última vez em que falou em público sobre o assunto, Gabrielli afirmou que ainda não havia definição sobre o que fazer.

Enquanto isso, a companhia decidiu retomar investimentos em fertilizantes nitrogenados, com o anúncio de quatro novas fábricas incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com investimentos projetados em US$ 5,7 bilhões, as unidades vão ampliar a capacidade de produção de nitrogenados das atuais 1,1 milhão para 2,9 milhões de toneladas ao ano.

Cobranças
ROGER AGNELLI
PRESIDENTE DA VALE

"Vamos tocando os projetos até a hora em que ele (José Gabrielli, presidente da Petrobrás) achar que tem de dar uma resposta."

"Depois não nos cobrem que não tem investimentos em potássio no Brasil."

"A Petrobrás tem de prover o fornecimento para as térmicas e, às vezes, suspende ou interrompe o fornecimento (para outros clientes)."

Mônica Ciarelli - O Estado de S.Paulo

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