O Sindicato dos Mineiros de Sergipe (Sindiminas) vai entrar com uma ação coletiva na Justiça do Trabalho para que todos os mineiros da Vale, que fica em Rosário do Catete, a 37 quilômetros de Aracaju, tenham o direito ao adicional de periculosidade, que lhes dará um acréscimo de 30% sobre o salário-base. O secretário-geral do Sindiminas, Gilson dos Santos, disse que a existência de bolsões de gás metano nas rochas provocam explosões durante as perfurações e acidentes. Em 2004, o operador de máquinas Edilberto Ribeiro Souza, o “Cafu”, morreu numa dessas explosões. Esta foi a única pessoa que morreu, mas as explosões são frequentes.
Independente da iniciativa do Sindiminas, dez mineiros da Vale já ingressaram com uma reclamação na Justiça do Trabalho e tiveram o direito assegurado. Agora, segundo Gilson dos Santos, a alternativa do sindicato será ingressar na Justiça, pois não houve diálogo com a direção da Vale. “O pessoal trabalha em condições de risco”, reforçou Gilson. No próximo dia 29, a mina Taquari-Vassouras será inspecionada pela Justiça. Além disso, o Sindiminas vem dialogando com a direção da mineradora para que ela encontre uma tecnologia capaz de detectar a existência dos bolsões de gás, suspender a perfuração da rocha naquele ponto e evitar a explosão e o acidente.
“Foram várias reuniões nos ministérios Público e do Trabalho amigáveis, mas não tivemos nenhum avanço. Por isso as ações coletivas”, afirmou o sindicalista. As explosões de gás metano são constantes, mas nem todas terminam em acidente. Mas todas essas ocorrências são colocadas em um relatório e encaminhado à diretoria da Vale. Os sindicalistas não têm acesso a essa documentação da empresa, por isso não sabe informar a frequência destas explosões de gás metano.
Segurança
Mesmo o risco de explosões, o secretário-geral do Sindiminas assegura que as minas da Vale, onde é extraído o cloreto de potássio, são seguras. Ao contrário do que ocorreu na mina San Jose, no deserto do Atacama, no Chile, que não tinha uma rota de fuga, na mina da Vale não há esse problema. Gilson dos Santos afirmou que segurança sempre foi um item discutido com a direção da empresa e a categoria. Mas esse diálogo nunca foi tão fácil.
“Tivemos perdas fatais no início da produção. As pessoas morriam por causa das explosões, das marquises caindo. Lembro que quando a Odebrecht administrativa havia premiação de produtividade, provocando uma disputa entre os mineiros. Quando a Petromisa assumiu, na década de 80, começou a preocupação com saúde e a segurança. Em 1987 foi criada a associação dos mineiros, depois o sindicato, que teve como primeiro presidente José Eduardo Dutra [hoje coordenador da campanha de Dilma Rousseff]”, contou Gilson.
“Fizemos acordos com cláusulas de segurança. Hoje a mina tem planejamento e não pode ser dominada pelo pessoal da produção, como foi no passado. Em 1992, quando a Vale assumiu, conseguimos, depois de uma muita polêmica, termos uma brigada de incêndio, resgate e um corpo de saúde e segurança bem preparados. A mina tem rotas de fuga, as zonas são interligadas, dois elevadores. E há procedimentos que são seguidos à risca”, disse. São cerca 400 quilômetros de mina, abrangendo os municípios de Rosário do Catete e Capela.
Além das rotas de fuga, a Vale dispõe também de células de sobrevivência, um container com comida especial, água, oxigênio, remédio e tudo mais que for preciso para que uma pequena equipe possa sobreviver por alguns dias, caso haja algum problema.
Mas mesmo com toda essa segurança, o Ministério das Minas e Energia criou uma comissão para fiscalizar a mina da Vale, que até hoje não autorizou essa visita. Essa comissão, da qual Gilson faz parte, não tem poder punitivo, mas sim de orientação. “Mas o problema é que a Vale não autorizou a entrada. Isso não é somente aqui em Sergipe, mas em todas as suas unidades no Brasil”.
Vale dá esclarecimentos sobre o assunto
A assessoria da Vale não se posicionou a respeito da iniciativa do Sindiminas, que vai ingressar com uma ação coletiva na Justiça, solicitando o pagamento de adicional de periculosidade para os mineiros. No entanto, esclareceu que a mina subterrânea de exploração de potássio “é fiscalizada periodicamente pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão que regulamenta as atividades de mineração no país”.
A empresa ressalta que “a unidade operacional cumpre fielmente a legislação minerária e também as normas de segurança, de responsabilidade social e ambiental. Além disso, conta com equipe especializada em mecânica de rochas, atuando no subsolo em turnos de revezamento com a finalidade de inspeção e tratamento das galerias de acesso, na circulação de pessoal e das frentes de trabalho na mina, promovendo ainda constante aperfeiçoamento dos padrões de segurança”.
Sobre as visitas à mina, a Vale informou que “vem recebendo representantes de órgãos fiscalizadores e instituições públicas sem qualquer impedimento para as mesmas, mediante acompanhamento das equipes de segurança do trabalho da empresa e realizadas dentro do padrão exigido pelos órgãos reguladores nacionais”.
Drama dos mineiros chilenos
Quando começou a acompanhar o drama dos mineiros chilenos, o sindicalista Gilson dos Santos se lembrou de um filme que havia assistido há algum tempo. Trata-se de “Soterrados” (Cave in, 2003), produzido na Nova Zelândia e dirigido por Rex Piano, que conta a história de Pat Borgen (Mimi Rogers, “Perdidos no Espaço”). Contratada para ocupar o lugar do seu pai como diretora da mina, a inexperiente Pat está longe de imaginar que em breve terá que enfrentar a situação mais complicada da sua vida: um acidente deixou presos seis trabalhadores, entre eles o seu marido, Chief, e o seu filho, Rabbit, a centenas de metros abaixo da superfície.
Em pânico, preocupada com as hipóteses de sobrevivência de ambos, Pat é forçada a reagir depressa, deixando para trás os seus receios, liderando um dramático esforço para salvar todas as vidas. Uma autêntica corrida contra o tempo começa lá em baixo. Seis homens lutam pela sobrevivência depois de uma explosão de gás ter dificultado ainda mais a missão de salvamento. Um jogo de nervos contra o relógio começa enquanto são feitos todos os esforços para salvar os seis trabalhadores antes que o oxigênio acabe.
Fonte: Antonio Carlos Garcia - Jornal da Cidade
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