Capa da REVISTA VEJA
SÃO PAULO. Gravações feitas no gabinete do ex-secretário Nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior, de conversas com altos funcionários do Ministério da Justiça, revelam o desconforto de Pedro Abramovay, que sucedeu a Tuma no cargo, com supostos pedidos do Palácio do Planalto para a confecção de dossiês. As informações são de reportagem de capa da revista "Veja" desta semana. Numa conversa com Tuma Júnior, Abramovay teria feito a seguinte queixa:
"Não aguento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho (chefe de Gabinete da Presidência da República) pra fazer dossiês. (...) Eu quase fui preso como um dos aloprados."
"Veja" informa que os registros foram "gravados legalmente e periciados", sem dar detalhes sobre quem fez as gravações nem quem teria autorizado o grampo.
Abramovay negou conteúdo das conversas com Tuma
Sobre a referência aos "aloprados", a reportagem explica que Abramovay trabalhava na liderança do PT no Senado e com o senador petista Aloizio Mercadante em 2006, quando petistas foram presos em um hotel de São Paulo ao tentar comprar um suposto dossiê contra José Serra. Segundo a "Veja", na conversa com Tuma Júnior, Abramovay "sugere ter participado do episódio e se arrependido". Conta que quase teria sido preso na época e até teve de se esconder para evitar problemas. "Deu `bolo´ a história do dossiê", teria afirmado ele.
Abramovay, que era secretário de Assuntos Legislativos do Ministério, assumiu a Secretaria Nacional de Justiça em junho, depois que Tuma Júnior foi afastado do cargo em meio a denúncias de manter relacionamento com integrantes da máfia chinesa, em São Paulo. Procurado pela "Veja", ele negou o teor das fitas.
"Nunca recebi pedido algum para fazer dossiê, nunca participei de nenhum suposto grupo de inteligência da campanha da candidata Dilma Rousseff e nunca tive de me esconder - ao contrário, desde 2003 sempre exerci funções públicas", disse.
Tuma Júnior confirmou à revista os diálogos:
"O Pedro reclamou várias vezes que estava preocupado com as missões que recebia do Planalto. Ele me disse que recebia pedidos de Dilma e do Gilberto para levantar coisas contra quem atravessava o caminho do governo", replicou, acrescentando: "Há um jogo pesado de interesses escusos. Para atingir determinados alvos, lança-se mão, inclusive, de métodos ilegais de investigação. Ou você faz o que lhe é pedido sem questionar ou passa a ser perseguido. Foi o que aconteceu comigo".
Sem revelar nomes, Tuma Júnior segue: "Posso assegurar que está tudo bem documentado", diz o ex-secretário Nacional de Justiça.
Em passeata ontem em Diadema, no ABC paulista, Grande São Paulo, ao lado da candidata à Presidência Dilma Roussef (PT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula não comentou a reportagem da "Veja". Lula disse não ter lido a reportagem.
- Não vi a (Veja) de hoje nem a de ontem.
O Globo
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